Monday, January 15, 2007
Nunca voltamos para um mesmo lugar. Estamos sempre indo...
Outra frase marcante dita pelo amigo Magnólio. Ontem eu vim para São Paulo. Não simplesmente voltei para cá. Porque não sou mais a mesma. Meu gosto pela vida tornou-se mais aguçado. Com cheiro de floresta úmida e calcanhar brejeiro de quem andou por demais descalça.
Estranho frio neste verão da capital paulista. Coloco meias com certa desconfiança, em uma espécie de crise de abstinência da quentura do Pará.
Minha missão esta semana é traduzir em um relatório os conflitos do uso de terra e dos rios do Assentamento Agroextrativista do Lago Grande, da Gleba Nova Olinda e comunidades quilombolas do oeste paraense. Durante três dias do mês de dezembro, acompanhei a reunião desse pessoal na elaboração de mapas cartográficos "social e econômico", ou seja, um documento onde eles pontuaram onde estão os recursos naturais, como estão explorados e quais os conflitos atuais (grilagem de terras, avanço da soja, dos madeireiros, pesca predatória, etc).
Em breve, esse relatório patrocinado pelo Projeto Saúde e Alegria terá a função de mostrar a realidade de depredação da floresta amazônica e chamar a atenção para a dura realidade dos moradores dessas áreas, ameçados de perder suas terras e até a vida. Lembro-me do depoimento emocionado de Ivete Bastos dos Santos, presidente do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Santarém: "eles tentaram entrar em casa duas vezes, não sei se para roubar ou para me pegar mesmo. Na última, estava sozinha e gritei que iria cortar o pescoço deles com a minha Tramontina, mas no fundo eu táva me tremendo toda. Nem sei se conseguiria fazer alguma coisa. Se me deixarem viva até 2008, até 2008 estarei à frente do Sindicato. Me disseram que vão deixar baixar a poeira da Irmã Dorothy para então me pegar". É, cenas de um cotidiano que aparece bem pouco nos jornais do Sudeste. Um Brasil distante demais de nós, das chatices do trânsito de Sampa, agravado pelo buracão das obras do metrô na Marginal Pinheiros, destaque máximo em toda a mídia.
Bom, cá estou de volta ao computador. Depois publico as muitas belas imagens da Ilha de Marajó (Soure, Joanes), da riponga ilha de Algodoal (e o coco verde mais doce do mundo!), dos museus de Belém e das várias travessias de barco, balsa, rabeta, ônibus, van, cavalo, moto-táxi, canoa. A foto acima é do almoço no barco Gaia, com os amigos da TV iataliana Rai.
O ponto de parada (?) agora é São Paulo. Até a próxima estação que será Santa Catarina.
Beijão para as minhas duas irmãs, juntas neste momento em Houston. Quero um café-cinema com Carol, Cilene e Walter, urgente!
Defesa da alegria
(por Mário Benedetti)
"Defender a alegria como uma trincheira
defendê-la do escândalo e da rotina
da miséria e dos miseráveis
das ausências transitórias
e das definitivas
defender a alegria como uma bandeira
defênde-la do raio e da melancolia
dos ingênuos e dos canalhas
da retórica e das paradas cardíacas
das endemias das academias
defender a alegria como um destino
defendê-la do fogo e dos bombeiros
da obrigação de estar alegre
defender a alegria como um direito
defendê-la de deus e do inverno
das maiúsculas e da morte
dos apelidos e das lástimas
do azar
e também da alegria"
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3 comments:
A nossa vida é uma série de desencontros. Gente que vai e gente que fica.
Você chegou de repente e foi contagiando todos daqui com a sua Alegria.
Chuchuzinha agradeço ao destino por ter dado a oportunidade de trabalhar com alguém tão especial como você.
Você me ensinou muitas coisas, coisas que guardarei para o resto da vida.
Que nós ainda possamos nos esbarrar numa das estradas do jornalismo.
Oi Carline,
Por acaso descobri seu blog pesquisando sobre budismo e yoga. Comecei a ler e não consegui deixar de acompanhar sequer um dia.
imagino a sensação de inadequação, voltando para SP... desejo que vc se adapte bem.
Forte abraço...
Letícia
Danni, minha linda, desse jeito fico muito emocionada. Também agradeço a vivência com a super Maria Matusquela ;) Continuamos certamente no mesmo "pulso". Beijo grande
Letícia: seja muito bem-vinda! Sampa me traz muita sede de viver também, além do que tenho tantos amigos maravilhosos, o Instituto Nyingma, os centros culturais... Se passares por aqui novamente, deixa um e-mail para conversarmos. Inteh!
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