Friday, July 01, 2005

O tratado do kitsch (parte I)

Tudo começa quando Sabina observa um senador americano parando o carro para beijar umas criancinhas....

"O senador tinha apenas um argumento a favor de sua afirmação: a sensibilidade. Quando o coração fala, não é conveniente que a razão faça suas objeções. No reino do kitsch, impera a ditadura do coração.

É preciso evidentemente que os sentimentos suscitados pelo kistch possam ser compartilhados pelo maior número de pessoas. Portanto, o kitsch não se interessa pelo insólito, ele fala de imagens-chave, profundamente enraizadas na memória dos homens: a filha ingrata, o pai abandonado, os garotos correndo na grama, a pátria traída, a lembrança do primeiro amor.

O kitsch faz nascer, uma após outra, duas lágrimas de emoção. A primeira lágrima diz: como é bonito crianças correndo no gramado! A segunda lágrima diz: como é bonito ficar emocionado, junto com toda a humanidade, diante de crianças correndo no gramado! Somente essa segunda lágrima faz com que o kitsch seja kitsch.

A fraternidade entre todos os homens não poderá nunca ter outra base senão o kitsch."
by Milan Kundera

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