Também é uma prisão

Confesso. Sou ainda uma daquelas pessoas que, ao ver uma paisagem deslumbrante e permeada com tons coloridos do céu sob o horizonte, tem vontade de "reter" o momento com toda a energia: fotografando mentalmente a cena, fotografando mesmo (caso tenha a sorte de estar com a câmera), desejando que a vida parasse aí, de tão perfeita. Quantas vezes já me peguei com a clássica "agora eu já posso morrer realizada". E é justamente aí que mora o perigo. De que adianta afrouxar o medo da morte certeira se continua-se a viver tão apegada aos bons momentos? Respirando com sofreguidão pelas belezas que vão surgindo?

Tudo isso vinha burilando mentalmente (movimento intenso dos pensamentos a la chuva de letrinhas verdes Matrix), quando o Kalidas, meu maha instrutor de yoga, soltou "o desejo de viver também é uma prisão". Soou como uma conclusão bem apropriada. Salão em Embu das Artes, onde ficamos imersos na prática de Iyengar Yoga, das 3 da tarde de sexta até às 3 da tarde deste domingo. Os amigos estavam terminando o almoço, aliás 5o minutos apenas, já sabendo que haveria uma série intensa de retroflexões. Sem chance de repetir a sobremesa.
Eu com o Wilson, meu mitra, lá do Recife :)
Para o melhor alinhamento dos corpos, utilizamos cintos, cobertores, almofadões, blocos, tábuas de madeira, pranchas, bastões...
Bem-vindos ao método ensinado pelo indiano B.K.S. Iyengar, que admiro cada vez mais e mais. Após a fascinante aventura de fazer o corpo entender o que significa mover ao mesmo tempo os ísquios para cima e o cóccix para dentro, na aula de anatomia surgiu o desafio de ter a ação interna para separar os ossos do púbis. Alguém se arrisca? Dou-lhe uma...
Hoje, o sol se pôs com mais vermelho, contrastando com o aglomerado sóbrio de São Paulo.
Tempo de contemplar ... com mais serenidade.

Foto: Avenida Heitor Penteado, by Carline