Saturday, October 04, 2008

Indo

O ônibus para Brusque chegou na plataforma oito do Tietê e dele saiu o seu Silvio. Ué, pensei, mas ele não me disse cinco meses atrás que aquela era a sua última viagem antes de se aposentar (parar de trabalhar na verdade porque aposentado ele está há mais de 13 anos, como gosta de ressaltar). Tenho confiança no trabalho dele como motorista. Serão os cabelos brancos? Costuma fazer o trecho São Paulo a Curitiba sem imprevistos.

Geralmente chegamos pela meia noite na capital paranaense. Metade da viagem já foi, Costumo comprar um pastel assado de palmito na Rede Graal. Depois disso, trocam de motorista e eu procuro embalar o sono até Brusque. Quero dizer, 98% dos passageiros desembarcam em Blumenau. Lá pelas cinco da matina, as luzes se acendem e é aquela zoeira desagradável para quem já está contando os minutos para chegar. Viro para o lado e tento continuar dormindo. Em vão. O assistente da Catarinense (empresa de auto-viação – aliás, essa palavra me lembra o “Banco Imobiliário”) faz questão de checar se quem ficou vai mesmo até o ponto final. Sacramenta, penso, por que eu não nasci em Blumenau?!

São mais 35, 40 minutos até Brusque, com um pit stop em Gaspar. Assim que vejo o rio Itajaí-mirim e as pessoas caminhando na beira-rio tão assim cedinho, a força da memória remete imediatamente ao cheiro do café (Melitta Tradição, sempre!) da mami. E pensar quanta gente não tem esse aconchego de uma família para visitar de vez em quando, ou quantos já perderam os seus pais. Eu ainda não me imagino sem eles me enchendo o saco porque estou magricela.

E eis que surge a Mariana

Mal encaro a poltrona 19 e ela chega falando ligeirinho; corpo miúdo e uma desenvoltura na fala que o pai já diria “essa faz teatro”. Na verdade, ela é jornalista. É de Brusque, estudou na Universidade Federal de Santa Catarina, foi bolsita do Unaberta, bolsita para o site do curso de jornalismo, orientanda do professor Magrinho, passou em um programa de trainee e ao se formar trocou a Ilha da Magia por Sampa. Ainda tem um pai neotrentino. Gente, ela sou eu! Incrível.

Mariana chegou pedindo licença, meio sem saber como perguntar, mas perguntou: o teu sobrenome é Piva? Opa, respondi. Entãããão... (resumindo) na UFSC falavam que eu também era brusquense; na Agência Estado (onde trabalha atualmente) encontrou ex-colegas meus que também falaram que era de Brusque e, jogando o meu nome no Google, acabou achando este blog. E me reconheceu pelas fotos. Incrível.

Nas viagens, há pessoas que não curtem percorrer o trecho entre o partir e o chegar. Eu adoro. Tantas pequenas (e grandes) surpresas acontecem.

Before I die

O filme que assisti no trajeto era o imperdível “Antes de partir” (The bucket list, no título original), com Jack Nicholson e Morgan Freeman, que coincidentemente foi o filme que vi no cinema na minha última visita a Brusque, em maio. Não tem como não chorar, vai. Sei que entre os top dez clichês cinematográficos está o clássico roteiro do médico apontando poucos meses de vida e a pessoa listando os últimos desejos a serem realizadas antes de morrer. Mesmo assim, vale a pena assistir e se inspirar para saborear a vida com mais tempero, já que não temos absolutamente garantia nenhuma de que estaremos vivos amanhã.

Com leveza e bom humor inteligente, o filme cativa e você pode se pegar escrevendo a sua própria lista TO DO. Já fiz a minha. E já cumpri um dos itens: fazer uma segunda tatuagem, o símbolo endless knot (nó sem fim). Vou partir agora para a próxima concretização. ;)

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