Sunday, August 29, 2010

Crescimento na economia budista, por Jeffrey D. Sachs*

Se tu nunca ouviste falar de Felicidade Interna Bruta, eis aqui mais uma boa oportunidade!

"A tradição budista no Butão entende a felicidade como consequência de um trabalho sério de reflexão interna e de compaixão pelos outros


Voltei recentemente do Butão, o reino himalaico de beleza natural, riqueza cultural e introspecção inigualáveis. A partir da singularidade desse reino surgem várias questões de cunho econômico e social de interesse urgente para o mundo todo.

A geografia acidentada do Butão propiciou o crescimento de uma brava população de agricultores e pastores, e ajudou a promover uma sólida cultura budista, intimamente vinculada na sua história com o Tibete. A população é esparsa, de aproximadamente 700 mil pessoas, num território do tamanho da França, com comunidades agrícolas assentadas em vales profundos e alguns poucos pastores nas montanhas altas. (...) O Butão está formulando a pergunta que todos devem fazer: como pode uma modernização econômica ser combinada com vigor cultural e bem-estar social?

No Butão, o desafio econômico não é o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), mas da Felicidade Interna Bruta (GNH, na sigla em inglês). (...) Parte do GNH do Butão gira, é claro, em torno da satisfação de necessidades básicas - melhora no serviço de saúde, redução da mortalidade materna e infantil, maior conquista educacional e melhor infraestrutura, especialmente eletricidade, água e saneamento. Esse foco na melhora material dirigido para a satisfazer as necessidades básicas faz sentido para um país com o nível de renda relativamente baixo do Butão.

O GNH, porém, vai muito além do crescimento amplo, voltado para os pobres. O Butão também indaga como o crescimento econômico pode ser combinado com sustentabilidade ambiental - pergunta que o país respondeu em parte por meio de um esforço maciço para proteger a vasta massa florestal do país e sua biodiversidade singular. O país pergunta também como pode preservar a sua tradicional igualdade e promover a sua herança cultural única. Além disso, quer saber como as pessoas podem manter a sua estabilidade psicológica numa época de mudanças velozes, marcadas por urbanização e uma investida dos meios de comunicação globais numa sociedade que não tinha televisões até uma década atrás.

Fui ao Butão depois de ouvir um discurso inspirador do premiê Jigme Thinley no Encontro de Cúpula sobre Desenvolvimento Sustentável realizado em Nova Déli em 2010. (...) Thinley definiu isso simplesmente: Cada um de nós é um ser físico finito e frágil. Quantas 'bobagens'- alimentação inadequada, comerciais de TV, carrões, novos aparatos eletrônicos e modas mais recentes - podemos enfiar em nós mesmos sem desregular o nosso próprio bem-estar psicológico? (...)

Todos sabem como a atitude hiperconsumista à moda dos americanos pode desestabilizar as relações sociais e provocar agressividade, solidão, cobiça e excesso de trabalho à beira da exaustão. O que talvez seja menos reconhecido é como essas tendências se aceleraram nos próprios Estados Unidos nas décadas recentes. Isso pode ser resultado, entre outras coisas, da crescente e implacável investida das relações públicas e publicitárias.

A questão de como conduzir uma economia para que produza felicidade sustentável - combinando bem-estar material com saúde humana, conservação ambiental e resistência psicológica e cultural - é a que deve ser abordada em todos os lugares.

A questão primordial para o Butão é considerar a Felicidade Interna Bruta como uma busca permanente, em vez de uma lista de verificação. A tradição budista do Butão entende a felicidade não como uma ligação a bens e serviços, mas como consequência de um trabalho sério de reflexão interna e de compaixão pelos outros. O Butão empreendeu uma jornada séria. As demais economias do mundo deveriam fazer o mesmo.

*Jeffrey D. Sachs é professor de Economia, diretor do Instituto da Terra na Universidade Columbia e consultor especial para as Nações Unidas na questão das Metas de Desenvolvimento do Milênio.

Para o artigo na íntegra, clique aqui.

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