Friday, November 28, 2008

Compaixão por Santa Catarina

Ainda não havia escrito nada sobre as terríveis enchentes que desvataram Santa Catarina, o estado querido onde nasci e passei a maior parte de minha vida.

Agradeço a todos que pergutaram sobre a situação de minha família. Apesar da casa dos meus pais ter sido alagada, causando bastante preocupação, não foi absolutamente nada em comparação aos demais catarinenses, vítimas de perdas familiares, propriedades inteiras e tudo o mais que estamos assistindo pela TV. Como bem resumiu minha mami "Estamos no céu".

Embora Brusque fique bem próxima de Itajaí e Blumenau, os estragos não foram tão imensos. Meus familiares em Brusque e Nova Trento passam todos bem. Que a foto abaixo (mostrando a rua dos meus pais) seja apenas uma lembrança da força inesperada da natureza, da impermanência de nossas vidas e, principalmente, de uma força maior ainda, que é a compaixão e generosidade despertada no coração de milhares de brasileiros que continuam fazendo suas doações.

Me encaminharam um e-mail de um rapaz de Itajaí, cujo depoimento reflete os sentimentos que pairam nesta tragédia. Reproduzo abaixo alguns trechos:

"Meus amigos,

Hoje 27 de novembro de 2008 o sol saiu e conseguimos voltar a trabalhar. A despeito de brincadeiras e comentários espirituosos normais sobre esta 'folga forçada', a verdade é que nunca me senti tão feliz de voltar ao trabalho. Não somente pelo trabalho, pela instituição e pela própria tranqüilidade de ter aonde ganhar o pão,
mas também por ser um sinal de que a vida está voltando ao normal aqui na nossa Itajaí.

As fotos que circulam na internet e os telejornais já nos dão as imagens claras de tudo que aconteceu então não vou me estender narrando e descrevendo as cenas vistas nestes dias. Todos vocês já sabem de cor. Eu quero mesmo é falar sobre lições aprendidas.

Por mais que teorias e leituras mil nos falem sobre isso ainda é surpreendente presenciar como uma tragédia desse porte pode fazer aflorar no ser humano os sentimentos mais nobres e os seus instintos mais primitivos. As cenas e situações vividas neste final de semana prolongado em Itajaí nos fizeram chorar de alegria, raiva, tristeza e impotência. Fizeram-nos perder a fé no ser humano num segundo, para recuperá-la no seguinte. Fez-nos ver que sempre alguém se aproveitará da desgraça alheia, mas que também é mais fácil começar de novo quando todos se dão as mãos.

Que aquela entidade superior que cada um acredita (Deus, Alá, Buda, GADU etc.) e da forma que cada um a concebe tenha piedade daqueles:

- Que se aproveitaram a situação para fazer saques em supermercados, levando principalmente bebidas e cigarros;

- Que pediam 5 reais por um litro de água mineral;

- Que chegaram a pedir 150 reais por um botijão de gás;

- Que foram pedir donativos de água e alimentos nas áreas secas pra vender nas áreas alagadas.

- Que esperaram as pessoas saírem das suas casas para roubarem o que restava.(...)

Da mesma forma, que essa mesma entidade superior abençoe:

- Aqueles que atenderam ao chamado das rádios e se apresentaram no domingo no quartel dos bombeiros para ajudar de qualquer forma.

- Os bombeiros que tiveram paciência com a gente no quartel para nos instruir e nos orientar nas atividades que devíamos desenvolver.

- A turma das lanchas, os donos das lanchinhas de pescarias de fim de semana que rapidamente trouxeram seus barquinhos nas suas carretas e fizeram tanta diferença.(...)

- Aos bravos gaúchos, tantas vezes vítimas de nossas brincadeiras que trouxeram caminhões e caminhões de mantimentos. (...)

- Aos Bombeiros e Policias locais que resgataram, cuidaram, orientaram e auxiliaram de todas as formas, muitas vezes com as suas próprias casas embaixo das águas. (...)

- Às pessoas que cozinharam para milhares de estranhos.

- Ao empresário que não se identificou e entregou mais de mil marmitex
no centro de triagem. (...)

- Ao Brasil todo, que chorou nossos mortos e nossas perdas.(...)

É hora de recomeçar, e talvez seja hora de recomeçar não só materialmente. Talvez seja uma boa oportunidade de renascer, de se reinventar e de crescer como ser humano. Pelo menos é a minha hora, acredito. Que Deus abençoe a todos.

Luis Fernando Gigena".

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