Friday, June 12, 2009

12 de junho

Segue um trecho escrito por Pedro Kupfer, yogi e professor, sobre amor e sofrimento.

Quem sabe vale a pena passar o dia de hoje contemplando sobre isso do que se jogar em uma daquelas festas de solteiros? O universo há de enviar alguém merecedor...
"(...)O Amor nos tempos do Veda

Como admirador da cultura dos Vedas, faz muito sentido para mim o que a Brihadaranyaka Upanishad diz à respeito do amor, e que resolve a equação amor/sofrimento. Esse ensinamento pode nos parecer, ao primeiro olhar, radical e desconcertante.

Numa passagem desse texto, cujo título poderia ser traduzido mais ou menos livremente como 'A Grande Floresta do Conhecimento', o sábio Yajñavalkya está prestes a renunciar ao mundo. Isso inclui as riquezas, a própria família e, obviamente, o amor que ele tem por ela.

Ele chama Maitreyi, sua esposa, e lhe diz que está indo embora para morar na floresta, para levar uma vida de contemplação, dedicada ao autoconhecimento. Também lhe diz que irá deixar todas suas riquezas com ela e sua segunda esposa, Katyayani.

Maitreyi pergunta se essas riquezas poderão dar para ela aquilo que ele está buscando na vida de contemplação. Ele responde com estas palavras: 'Não, sua vida seria apenas igual à daqueles que têm riquezas. No entanto, não há a mínima chance da imortalidade ser obtida através da abundância.'

Então Maitreyi disse: 'O que deveria eu fazer então, com aquilo que não me torna imortal? Ensine-me, venerável senhor, sobre Aquele que você conhece como o único meio de se alcançar a imortalidade.'

Depois, lhe dá uma definição de amor que pode parecer-nos perturbadora ou 'egoísta', respondendo com estas palavras: 'Minha querida, você já era minha amada antes, e agora menciona o assunto que me é mais caro. Venha e sente-se: irei lhe explicar. Enquanto lhe explico, medite sobre o que lhe digo:

Em verdade, não é pelo amor ao esposo, minha querida, que o esposo é amado: ele é amado pelo amor ao Ser que, em sua natureza real, é uno com o Ser Ilimitado. Em verdade, não é pelo amor à esposa, minha querida, que a esposa é amada: ela é amada pelo amor ao Ser. Em verdade, não é pelo amor aos filhos, minha querida, que os filhos são amados: eles são amados pelo amor ao Ser.'

Isso significa que, quando amamos uma pessoa, não estamos amando ela pelo que ela é, mas pelo que ela evoca em nós: a pessoa simples, pacífica e plena que essencialmente somos. Isso, contrariamente ao que possa parecer, não é egoísmo. Deixando de ver o amor como uma emoção, posso cultivar o desapego em relação aos meus próprios sentimentos. Assim, poderei me livrar do sofrimento que inevitavelmente advém quando estou identificado com eles. Dessa maneira, poderei igualmente aliviar o outro da responsabilidade de me fazer feliz. Isso seria exatamente o oposto do egoísmo. (...)

Assim, o amor não seria uma emoção ou uma sensação. Uma emoção é uma reação orgânica a um pensamento, acompanhada por mudanças na respiração e na pressão sanguínea. Amor é um estado de paz, advindo do conhecimento de si mesmo como alguém completo, simples, feliz e satisfeito. Por esse motivo, não devemos confundir paixão ou volúpia com amor de raiz. Se, em presença do ser amado, fico em estado de plenitude, satisfeito e em paz, isso acontece porque a pessoa que amo desperta em mim o amor pelo Ser que eu sou. (...)"

Crédito da foto: deste site.

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