Thursday, December 21, 2006
O jornalista e colunista da Folha de S.Paulo Marcelo Leite dá palestra para os jovens repórteres ribeirinhos
Depois, relata em seu blog http://cienciaemdia.zip.net, sua experiência visitando o oeste paraense:
"Tem razão o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro quando diz que, no Brasil, todo mundo é índio -- exceto quem não é. É uma maneira de dizer, acho, que só não é índio quem não quer, ou quem não pode. Foram cinco dias visitando comunidades ribeirinhas com nomes saborosos na língua, como Jamaraquá, Maguari, Suruacá, Anumã, Aramanaí, Acaratinga, Capixauã, Mapiri, Piquiatuba, Caxiricatuba... Depois de tanto tupi, eu mesmo não estou me sentindo muito branco (como, aliás, a pele não nega). É só querer.
Está certo que ribeirinho não é índio, mas qualquer estrangeiro -- do Brasil ou de fora dele -- vai concluir que é. Geneticamente, sem dúvida: basta atentar para os cabelos e os olhos. Culturalmente, bastante: sentados junto ao fogo, de noite, comendo tucunaré com tucupi e farinha de mandioca, as histórias sobre panema e curupira dizem tudo. Historicamente, é outra coisa: filhos da mistura do português com as índias, mais sucessivas levas de brasileiros pobres de outras partes, em especial do Nordeste, eles próprios filhos da mescal de europeu, índio e negro.
Se existir um gene da pilhéria, não cabe dúvida de que ele terá alta incidência nessa população. Um exemplo: ontem, num encontro de jovens de várias comunidades da região em Maguari, Magnólio de Oliveira (profissão: palhaço) aloprava ao microfone diante de 67 rapazes e moças de 22 localidades ribeirinhas e disparou na cara de um representante de uma comunidade do município de Aveiro:
- Você tem apelido?
- Tenho, sim senhor.
- E qual é?
- É 'Feio...'
- Como?
- 'Feio Que Nem O Senhor'."
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