Após anos de distância, uma amiga minha (polonesa) dos tempos de Londres me escreve dizendo que o namorado (inglês) está em São Paulo e precisa de ajuda para deixar de ser extorquido por taxistas, gerentes de hotéis e tudo mais.
Acho espaço na agenda, repasso dicas turísticas, organizo um jantar na Vila Madalena para conhecê-lo, além da trupe de mais dez ingleses que viajava com ele, e, claro, aproveito para escrever uma carta e comprar um presente para ele levar para essa grande amiga. Ao escrever a mensagem, me emociono ao lembrar do nosso companheirismo, trabalhando e morando no andar de cima do The Cottage. Éramos bem irmãs.
O namorado voltou para Inglaterra. E, dela, nunca recebi sequer um e-mail agradecendo pelo presente e compartilhando as memórias resgatadas. A gente sabe que não se deve oferecer esperando algo em troca, mas essa minha amiga perdeu uma valiosa oportunidade de ser gentil.
Acho espaço na agenda, repasso dicas turísticas, organizo um jantar na Vila Madalena para conhecê-lo, além da trupe de mais dez ingleses que viajava com ele, e, claro, aproveito para escrever uma carta e comprar um presente para ele levar para essa grande amiga. Ao escrever a mensagem, me emociono ao lembrar do nosso companheirismo, trabalhando e morando no andar de cima do The Cottage. Éramos bem irmãs.
O namorado voltou para Inglaterra. E, dela, nunca recebi sequer um e-mail agradecendo pelo presente e compartilhando as memórias resgatadas. A gente sabe que não se deve oferecer esperando algo em troca, mas essa minha amiga perdeu uma valiosa oportunidade de ser gentil.
E quantas vezes não fizemos o mesmo? Deixamos de acolher, de cuidar do que é significativo, por conta do trânsito, da correria, dos prazos do trabalho, da chuva do fim da tarde, da preguiça, dos humores instáveis da nossa mente.
Percebo que o mundo ao meu redor está, infelizmente, cada vez menos gentil. É cliente que sabe cobrar bem por prazos iniciais e depois some por meses sem dar retorno. É o salve-se quem puder no metrô das seis horas. São relacionamentos que começam no (delicioso) acaso das aventuras e depois desandam sem nem o esforço de uma conversa franca para levar a vida adiante com mais leveza e dignidade.
Porque, ao contrário do ditado, custa sim ser gentil. Custa tempo, principalmente. Para ir até a livraria, comprar um cartão, escrever uma mensagem verdadeira e ir até os Correios. Planejar uma viagem, escrever e-mails, ou simplesmente ficar horas no silêncio, dando colo para uma amiga em crise existencial.
Custa também dinheiro. Para mandar flores para a mãe, para trabalhar de forma voluntária.
Isso tudo surgiu quando refleti sobre a frase do Dalai Lama: “My religion is kindness” (Minha religião é gentileza). Não é sensacional? Não fala de rituais religiosos, Deus, deuses, moral ou de cívica. Pincela a importância da generosidade sem obrigação. De ser gentil como início, meio e fim.
Percebo que o mundo ao meu redor está, infelizmente, cada vez menos gentil. É cliente que sabe cobrar bem por prazos iniciais e depois some por meses sem dar retorno. É o salve-se quem puder no metrô das seis horas. São relacionamentos que começam no (delicioso) acaso das aventuras e depois desandam sem nem o esforço de uma conversa franca para levar a vida adiante com mais leveza e dignidade.
Porque, ao contrário do ditado, custa sim ser gentil. Custa tempo, principalmente. Para ir até a livraria, comprar um cartão, escrever uma mensagem verdadeira e ir até os Correios. Planejar uma viagem, escrever e-mails, ou simplesmente ficar horas no silêncio, dando colo para uma amiga em crise existencial.
Custa também dinheiro. Para mandar flores para a mãe, para trabalhar de forma voluntária.
Isso tudo surgiu quando refleti sobre a frase do Dalai Lama: “My religion is kindness” (Minha religião é gentileza). Não é sensacional? Não fala de rituais religiosos, Deus, deuses, moral ou de cívica. Pincela a importância da generosidade sem obrigação. De ser gentil como início, meio e fim.
Foto: prisma by Carli, fev 2010
No comments:
Post a Comment