Tuesday, February 16, 2010

Quando a sinceridade arruinou minha eventual carreira de modelo

Essa eu nunca parei para contar no blog. Mas merece.

Aconteceu em 2009. Ao entrar no vagão do metrô Vila Madalena, um rapaz com bolsa fashion de botões purpurinados se apresenta como scouter. O barulho dos trilhos me faz ouvir stalker, que em inglês significa perseguidor.
- Como??!

Ele me entrega um cartão. Leio scouter. Pergunto que catzo é isso?
Bruno me responde com uma outra pergunta.
- Você não sabe o que é scouter?
Apenas olho atravessado. Ele resolve explicar. Vai que eu desço na estação Clínicas?
- No mundo da moda, é como chamam os olheiros. Você já trabalha como modelo?
Me questiono se o Maníaco do Parque também se apresentava como scouter.

- Nunca. Digamos que, bem, não faz o meu estilo.
- Eu insisto para que você fique com o meu cartão. Venha fazer uma entrevista na Bravo Model, fica na Vila Madalena. Trabalhamos também bastante com eventos. Você vai gostar.

Acabei dando o meu cartão para Bruno. Uma semana depois, a Bravo Model me liga, marcando o encontro. É óbvio que eu não perderia essa experiência antropológica por nada. Ainda mais tão pertinho de casa. Passei até rímel naquela manhã. Para impressionar.

Na recepção (preciso detalhar que era fashion?), duas adolescentes acompanhadas pelas respectivas mães olhavam para tudo, curiosas e esperançosas. Elas não eram nenhuma Gisela Bündchen. Muito menos eu. Mas eles também não eram nenhum Ford Models. Cada beldade tem a agência que merece, e vice-versa.

Muito simpática, a recepcionista pediu para eu preencher um questionário, com meus dados pessoais e a seção Responda sinceramente:

“Você tem cicatriz? Onde?

Você tem tatuagem? Onde?

Você tem manchas?

Você tem pintas?

Você tem celulite?

Você tem estrias?

Você tem espinhas?

Você tem cravos?

Você se depila?

Você aceita tirar fotos de biquínis? Caso contrário, por quê?”

Marquei SIM sinceros em todas as alternativas, exceto na última. Deixei em branco as medidas do quadril, cintura e busto.

Em outra sala, passei para a fase de entrevista. A produtora tinha uma fita métrica. Minhas medidas não vêm ao caso.

Colocou os óculos (fashion) para ler as respostas.
- Mas você tem celulite “normal”, correto?
- Olha, no questionário as opções eram sim e não, sem o detalhamento “normal” ou “cascona de laranja”. Eu considero “normal”, ainda. Depois dos 30 a casa começa a cair, você sabe. Há-há-há. Ela não achou a tirada engraçada. Pelo menos não pediu que eu abaixasse as calças para a averiguação.

Qual seria o próximo passo? Alguma espécie de veredicto, do tipo você serve ou não para a coisa? Informariam os valores possíveis de cachê?

Nada. Fico sabendo que, antes de tudo, preciso contratar um fotógrafo para fazer um book profissional. Depois vou concorrer a um espaço no próprio casting da agência, que não aceita várias morenas altas com cintura xx centímetros, por exemplo. Algo meio United Colors of Benetton. Não podem dar nenhuma garantia de trabalho, como bem frisaram.

Para depois receber cachês iniciais de R$ 300 pilas (por um dia inteiro de trampo, não incluindo o custo da depilação e manicure), sendo que 30% ficam para a agência. Ou algo assim, não me lembro de todos os detalhes. Soou como “miséria do glamour”.

Isso é uma carreira ou um suplício?

Crédito da foto: blog Quero ser modelo!

2 comments:

Anonymous said...

Adorei essa história da sua vida de modelo por um dia. Confesso que fiquei interessado nas medidas.

beijinhos

Carline :) said...

Daí, Alê! Quanto tempo, não é? Pelo jeito ainda estás mergulhado no agronegócio! Seja bem-vindo ao blog. As minhas medidas continuarão no suspense he he he