Wednesday, July 15, 2009

A Alma Imoral e a necessidade de transgredir

O monólogo protagonizado por Clarice Niskier ainda ressoa dentro de mim. Saí do teatro e comprei o livro escrito pelo rabino Nilton Bonder (que deu origem à adaptação para o palco). Terminei de lê-lo anteontem, uma leitura bem mais cisuda que o conteúdo passado com desenvoltura pela atriz.

http://www.almaimoral.com/
Vale a pena assistir e observar os momentos que talvez seja melhor largar a mesmice de lado, mesmo quando consideramos sendo esta "correta e boa". O certo, o errado, a traição, a transgressão, o corpo, a alma , inclusive, ganham novos contornos, mais flexíveis - ou poderíamos dizer mais perigosamente perversos e libertários?
Mas o que significa liberdade, afinal? Não seria isso também uma ilusão?

"A necessidade de transgredir

O rabi Elimelech certa vez perguntou a seus discípulos: “Sabem qual é a distância entre o Ocidente e o Oriente?” Diante do silêncio, o rabino prosseguiu: “Uma simples volta”.


Transgredir é um processo, e o momento em que nos voltamos para outra direção marca um novo segmento de nossas histórias individuais e coletivas. O corpo e sua moral, por sua vez, percebem esse ato como uma “desorientação”. No entanto, transgredir é necessário.


O rabi Bunan adverte que os “pecados” que um indivíduo comete não são o pior crime realizado por ele. O verdadeiro crime do ser humano é que ele pode dar-se “uma simples volta” a qualquer momento, mas não o faz.

Para o rabi Bunan, o problema não é o tempo perdido ou as sandices cometidas no passado, mas o momento de agora, que é uma oportunidade não aproveitada para mudar o curso. Duas coisas ficam comprometidas pela ausência de transgressão: a qualidade da vida e a possibilidade de continuidade.

A qualidade da vida coletiva é prejudicada cada vez que Itálicoum indivíduo não exerce todo seu potencial transgressivo. A vida poderia ser melhor, produzir maior satisfação, mas os indivíduos se abstém de seus direitos e com isso afetam o direito de todos.

Conta-se que um homem rico veio certa vez ao maguid de Kosnitz.
“O que você costuma comer?”, perguntou o maguid. “Sou bastante modesto em minhas demandas”, disse o homem rico. “Pão, sal e água é tudo o quenecessito.”
“O que você pensa que está fazendo?”, o rabino reagiu em reaprovação. “Deve comer carne e beber vinho como uma pessoa rica.”


Mais tarde, seus discípulos questionaram a reação do mestre, e este explicou: “Até que ele coma carne e beba vinho, não vai compreender que o homem pobre precisa de pão. Enquanto ele se alimentar de pão, vai achar que o pobre pode se alimentar de pedras.”

Aquele que não faz uso de todo o potencial de sua vida, de alguma maneira diminui o potencial de todos os demais. Se fôssemos todos mais corajosos e temêssemos menos a possibilidade de sermos perversos, este seria um mundo de menos interdições necessárias e de melhor qualidade.

Nilton Bonder, em Alma Imoral (pgs 81 e 82)

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