Publicado no The New York Times, em 12 de julho de 2009
Ioga enfrenta e resiste à regulação
Parecia uma boa ideia no início. Há 10 anos, quando a ioga, até então uma atividade de nicho, se transformava em um fenômeno disseminado da cultura pop, professores de ioga se reuniram para criar um registro online voluntário de escolas que cumprissem com novos padrões para treinamento de instrutores. Mas essa lista - que hoje inclui cerca de mil escolas de ioga nos EUA, muitas delas pequenas - está sendo usada para um propósito distinto do original. Ela é o documento-chave de uma situação que opõe iogues de espírito livre e pesados governos estatais que, diferente daqueles que tentam regular, não são conhecidos por sua flexibilidade.
Citando leis que regulam escolas vocacionais, como as de cabeleireiros e caminhoneiros, autoridades começaram a exigir licenças de escolas de ioga que treinam instrutores, com todas as taxas, inspeções e papelada que as acompanham. Embora os confrontos se desenvolvam de forma distinta em cada estado, ameaças de fechamentos e multas, em alguns casos, se deparam com acusações de abuso de poder e desrespeito religioso - disputas que parecem bem distantes do mundo meditativo evocado pela ioga.
Em abril, o Estado de Nova York enviou cartas para cerca de 80 escolas alertando que suspendessem seus programas de treinamento de professores imediatamente ou receberiam multas de até US$ 50 mil. Mas os iogues do estado se reuniram em oposição e o governo, por enquanto, recuou.Em outros estados, os reguladores não se comoveram. Em março, Michigan deu o prazo de uma semana para que as escolas obtivessem uma licença do Estado ou interrompessem suas operações.
As inconvenientes regras de licenciamento da Virgínia incluem uma taxa de US$ 2,5 mil - um grande golpe para estúdios modestos que não passam de espaços de um cômodo.Lisa Rapp, dona do My Yoga Spirit em Norfolk, Virgínia, disse que fechará seu negócio de sete anos neste verão americano. "Essa foi a causa que nos fez fechar o estúdio por completo", disse Rapp. "É muito ruim, porque esta comunidade realmente precisa de ioga."O conflito começou em janeiro, quando uma autoridade da Virgínia mostrou a reguladores de mais de doze estados um registro nacional online de escolas que ensinam ioga e, nas palavras de uma autoridade de Kansas, têm "uma renda considerável". Até então, apenas alguns Estados tinham conhecimento do registro e haviam atuado para regular a instrução de ioga, apesar de cursos de outras disciplinas, como a massagem terapêutica, já fossem sujeitos à supervisão há bastante tempo.
O registro foi criado pela Yoga Alliance, um grupo sem fins lucrativos fundado em 1999 para criar padrões de ensino num esforço de autorregulação setorial. Em um boletim recente, a aliança alertou seus membros de que as licenças nacionais talvez fossem inevitáveis, "forçando esta antiga tradição a se adequar às práticas de negócio ocidentais"."Facilitamos muito para eles fazerem o que estão fazendo no momento", disse Leslie Kaminoff, fundadora do Breathing Project, um centro de ioga sem fins lucrativos na cidade de Nova York, que se opôs à formação da Yoga Alliance. "
O setor da ioga é um alvo grande e apetitoso."Novas regulações estatais não afetam diretamente as aulas ocasionais frequentadas por muitos dos estimados 16 milhões de americanos que praticam ioga. Mas as aulas que tais regulações afetariam são uma fonte importante de receita para muitas escolas e, é claro, para o treinamento de futuros instrutores."É a perpetuação da espécie", disse S. J. Khalsa, que opera a Kunndalini Yoga East, em Manhattan, uma escola que oferece cursos de treinamento de professores. "Não estamos nisso para ganhar rios de dinheiro."
No entanto, Sybil Killian, gerente geral do OM Yoga Center, também em Manhattan, questiona se a ioga pode alegar com justiça que é uma busca espiritual num momento em que, de acordo com estimativa do setor, fatura US$ 6 bilhões por ano nos Estados Unidos."Pessoas compram calças de moletom de US$ 1 mil porque precisam parecer bonitas enquanto recebem a iluminação", escreveu Killian em uma mensagem de e-mail para outros professores de ioga de Nova York. "Não se enganem, senhoras e senhores, a ioga é uma indústria. Basta apenas folhear a seção de anúncios do Yoga Journal para saber disso."
Segundo reguladores, o licenciamento de escolas permitiria que os Estados consolidassem padrões básicos e protegessem consumidores que normalmente pagam entre US$ 2 mil e US$ 5 mil em cursos de treinamento, além de proporcionar receita para governos famintos por dinheiro. "Se você vai começar uma escola e pegar dinheiro das pessoas, você deve seguir um conjunto de regras", disse Patrick Sweeney, autoridade de licenciamento de Wisconsin que acredita ter sido o primeiro a descobrir o registro online em 2004 e a usá-lo para começar a regulação do ensino de ioga.
"Mais cedo ou mais tarde, provavelmente todo Estado vai fazer isso", disse Patricia Kearney, instrutora de saúde e ciência do exercício do Bridgewater College, em Virgínia, que tem pesquisado a tendência. "Depois que as pessoas se acostumarem, isso vai acabar beneficiando a ioga. Mas isso não acontecerá sem perdas. Alguns programas bons que são pequenos vão fechar. Mas provavelmente alguns programas não tão bons também deverão fechar."No estado de Nova York, entretanto, os professores contra-atacaram, reclamando que as novas regras poderiam diminuir resultados financeiros apertados, contradizer bases religiosas e, mais importante, fechar todas as escolas no estado durante o período de oito meses de licenciamento."Isso basicamente destrói a essência da ioga, controlar e manipular toda a situação", disse Jhon Tamayo, do Atmananda Yoga Sequence em Manhattan. "Ninguém pode regular a ioga."Brette Popper, cofundadora do Yoga City NYC, website que tem acompanhado os desdobramentos do licenciamento, disse que a comunidade iogue - descrita no site como "um grupo que não concorda sequer em como pronunciar 'Om'" - está unida contra um inimigo comum.
Os professores formaram uma coalizão e chamaram um senador estadual, Eric T. Shneiderman, de Manhattan, para assumir sua causa, esperando que Nova York resistisse à tendência nacional. "Isso realmente é algo histórico na comunidade iogue", disse Popper.Essa unidade pôde ser vista no mês passado em um pequeno estúdio de Midtown Manhattan, onde cerca de 100 seguidores de todo o estado se sentaram de pernas cruzadas e descalços no chão de madeira. O grupo, cujos membros variavam de ágeis e jovens professores em roupas elásticas àqueles mais velhos em vestimentas religiosas, começou com um canto tradicional e acabou duas horas mais tarde discutindo procedimentos parlamentares para a organização formal que estabeleceram. Um presente classificou o conflito como "burocracia versus liberdade".
Alison West, que foi selecionada para liderar a nova coalizão, a Yoga Association do Estado de Nova York, rezou por "algumas das alegres conclusões que nunca havíamos concebido".Dias depois, Joseph P. Frey, comissário associado ao Departamento Estadual de Educação, disse em entrevista que o departamento suspenderia o esforço de licenciamento, permitiria o continuamento das aulas e passaria a pressionar por uma legislação que incluiria a ioga em uma lista de atividades isentas de regulação. "Entendo a preocupação das pessoas", disse.
Wednesday, July 15, 2009
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