"Por Amália Safatle, da revista Página 22
Enquanto no Brasil as regras de licenciamento ambiental são flexibilizadas, por decreto, para acelerar o crescimento econômico, as Nações Unidas, por meio de seu programa de Meio Ambiente (Pnuma), propõem o investimento em um modelo de desenvolvimento que contesta o antagonismo entre uma coisa e outra.
Com base na premissa de que crescimento econômico pode, sim, andar junto com conservação, a proposta do Pnuma é desenvolver uma economia verde, reduzindo os riscos a que uma economia de alto carbono está exposta, extinguir os subsídios perversos e ainda permitir inclusão social - a começar do fato de que, nas economias em desenvolvimento, a fatia do PIB ligada aos recursos naturais chega a 90%.
Para isso, o Pnuma propõe o investimento de 2% do PIB mundial - ou US$ 1,3 trilhão por ano - em dez setores estratégicos: agricultura, construção, energia, pesca, silvicultura, transportes, turismo, água, indústria e resíduos. A proposta é detalhada no relatório Rumo a uma Economia Verde: Caminhos para o Desenvolvimento Sustentável e a Erradicação da Pobreza lançado ontem, como contribuição para as preparações da Conferência Rio+20 que se realizará no ano que vem no Brasil. O programa define como economia verde "aquela que resulta na melhoria do bem-estar humano e da igualdade social, ao mesmo tempo que reduz significativamente os riscos ambientais e as carências ecológicas".
Segundo o Pnuma, esse investimento fomentaria o crescimento da economia global a níveis provavelmente superiores ao promovido pelo atual modelos econômico. Isso porque a transição para uma economia verde evitaria riscos, choques, escassez e crises cada vez mais inerentes ao atual modelo, baseado em altas emissões de carbono.
"Com 2,5 bilhões de pessoas vivendo com menos de dois dólares por dia e com um aumento populacional superior a dois bilhões de pessoas até 2050, é evidente que devemos continuar a desenvolver e a fazer crescer as nossas economias. No entanto, esse desenvolvimento não pode acontecer à custa dos próprios sistemas de apoio à vida na Terra, dos oceanos e da atmosfera que sustentam nossas economias e, por conseguinte, as vidas de todos nós", afirmou o subsecretário Geral da ONU e diretor executivo do Pnuma Achim Steiner, em comunicado à imprensa."
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