Sunday, August 02, 2009

Impermanência e apreciação da vida

"Eu conheço monges que não ousam dizer que é saborosa a comida que ingerem. Um dia na Tailândia, ofereceram-me um delicioso arroz doce com manga. Gostei muito e disse aos anfitriões: 'Isto está ótimo'. Eu sabia que os monges tailandeses não dizem isso, mas acho que é seguro apreciar o que está em torno e dentro de você, desde que você esteja consciente de sua impermanência. Não há nada de errado em apreciar um copo de água quando se está com sede. Na verdade, para de fato apreciá-lo você tem de estar no momento presente.

Quando morre uma flor nós não choramos. Sabemos que ela é impermanente. Se praticarmos conscientes da natureza da impermanência, sofreremos menos e aproveitaremos mais a vida. Se sabemos que as coisas são impermanentes, cuidaremos de aproveitá-las no momento presente. Nós sabemos que as pessoas que amamos são de natureza impermanente, então tentamos fazê-las felizes agora, da melhor maneira possível.

A impermanência não é negativa. Alguns budistas acham que não devemos apreciar nada, porque tudo é impermanente. Acham que emancipação é livrar-se de tudo e não apreciar nada. Mas quando oferecemos flores a Buda, acho que ele vê a beleza das flores e as aprecia profundamente."

Li em apenas um dia o livro Cultivando a Mente de Amor, de Thich Nhat Hanh, e achei muito inspirador. Ele conta da paixão "por acidente" que teve por uma monja e como conviveram e amadureceram esse amor, completamente à distância, em suas vidas de monge e monja. Muitos livros budistas são densos de conceitos, tornando a leitura pouco fluida, o que geralmente não acontece com as obras de Thich Nhat Hanh. Ele tem o dom de escrever de forma poética, inclusive sobre vacuidade, e pede que as palavras simplesmente derramem como uma "chuva dhármica", em que não precisamos forçar o nosso racional na tentativa de captar as ideias. De forma leve, tudo vai fazendo sentido quando tiver que fazer sentido.

"(...)Onde estaremos dentro de trezentos anos?
Abrimos os olhos e o abraço.

Descansando na dimensão suprema,
usando montanhas nevadas como travesseiro
e belas nuvens rosadas como cobertor.
Nada falta" (...) (pg. 120)

2 comments:

Re Mendes said...

Amei esse post.... posso colocar no meu blog, colocando a referencia do seu?
bjuuu e saudade

Carline :) said...

Oi, querida! Pode sim, claro. Vamos disseminar a impermanência por aí ;)