Lembro-me bem da primeira dinâmica de grupo que participei, no processo de seleção para virar trainee da Gazeta Mercantil (o falecido jornal de economia, até então em época de vacas bem gordas). Os profissionais de RH rodeavam as mesas dos candidatos em plena troca de ideias, observando nossa capacidade de atuar em equipe, de emitir opiniões e todos aqueles demais aspectos comportamentais desejáveis e condenáveis para o cargo em questão. Eu estava mais ou menos tranquila, ouvindo os colegas dizendo bobagens para aparecer (sem poder interromper, claro) e aguardando também oportunidades para falar coisitas interessantes.
Uma semana semana depois, veio o resultado da avaliação do RH. Abaixo do meu nome, as características predominantes: egoísta, competitiva, antissocial. Hã??! Sabe quando parece que você está lendo o signo errado do horóscopo? Oi, com licença gente, eu sou libriana! É sério, mesmo, que vocês me enxergaram assim?
O melhor de tudo é que fui aprovada no processo de seleção. O perfil competitivo faz O sucesso no mundo corporativo, não?
Dez anos se passaram e hoje novamente me pego pensando nas autoimagens que construímos de nós mesmos para conquistar boas posições, amigos, etc, e também as imagens que os outros cultivam de nós. Bom, acho que "cultivar" não é a melhor palavra, pois dá ideia de dinamismo, de algo que cresce, morre e, com a semente devidamente plantada, nasce novamente. Os labels que ganhamos dos outros têm permanência maior, um teor mais estanque.
Depois de anos felizes em raves de psytrance, tanta gente estranhou quando decidi trocar baladas mil por retiros-silêncio-e-natureza. Você, quieta, meditando??? Sim, eu!
No domingo passado, no Yoga pela Paz, uma amiga me viu dançando MUITOOOO e estranhou: "Não sabia que você se animava tanto com música". Ao que respondi que já dancei por horas a fio nas festas. Você, em raves??? Não te imagino. Sim, eu!
Somos feitos de toda essa vastidão de interesses, gostos, cheiros, sabores, sonhos, viagens, amores, eu e não-eu, desafetos, risos, fotografias, nuances de humor, misérias, contemplações, natureza, perdão, livros, filmes, cafés com amigos, empregos, projetos, ideias, bobices... que se alternam mês após mês, ano após ano.
Somos, mas sem a necessidade de termos que ser qualquer coisa. Isso não é um doce alívio?
Somos esse turbilhão de inconstâncias e deveríamos enxergar esse mesmo potencial de mudança no fundo dos olhos das outras pessoas. Ninguém é assim ou assado. Desconfie da sua estagnada memória.
Fotos: eu, por Débora Sanches, no incrível parque das sequoias gigantes do Yosemite, na Califórnia. Na primeira imagem, eu até desapareço tentando abraçar o tronco. Aquela com um "caminho" cortado na raíz para passar automóveis inclusive não é o ó do borogodó?
Saturday, August 22, 2009
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