Wednesday, August 19, 2009

Porque eu também quero a essência

O tempo e as jabuticabas, por Rubem Alves

"Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora. Sinto-me como aquela menina que ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ela chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.

Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.

Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados. Não tolero gabolices. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.

Já não tenho tempo para projetos megalomaníacos. Não participarei de conferências que estabelecem prazos fixos para reverter a miséria do mundo. Não quero que me convidem para eventos de um fim de semana com a proposta de abalar o milênio.

Já não tenho tempo para reuniões intermináveis para discutir estatutos, normas, procedimentos e regimentos internos. Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos.

Não quero ver os ponteiros do relógio avançando em reuniões de'confrontação', onde 'tiramos fatos a limpo'. Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário geral do coral.

Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou: 'as pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos'. Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa...

Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados, e deseja tão somente andar ao lado do que é justo.

Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade, desfrutar desse amor absolutamente sem fraudes, nunca será perda de tempo.

O essencial faz a vida valer a pena".

Texto lindo, compartilhado pelo amigo de nome pomposo Augusto Cesar. Espero que os que ainda passam pelo blog possam também rir dos tropeços e amar sem fraudes.

Em tempo: eu a-m-o jabuticabas!

Foto: peguei deste blog aqui.

3 comments:

Anonymous said...

'Poizé´, este texto retrata um cotidiano comum a muitas pessoas. No segmento em que trabalho, a pergunta mais recorrente é:"Quanto tempo você leva para realizar esta tarefa"? São os dias, as horas, os minutos.

E as reuniões para tratar dos tais "rótulos", tão desanimadoras... Um cenário triste.

Durante esta semana, pensei em rever vários "conceitos"... Depois da leitura deste texto, tive certeza de que vou refletir mais sobre o que é essencial...

Bjo procê, Carli.

Carline :) said...

Você integra o quadro de gente humana, muito humana, cherie. Saudades!

Alexander said...

Demais esse texto, super apropriado.

O Blog é muito astral, grato!