Tuesday, March 08, 2011

A dama é da noite

O bonito de se morar distante da família é conseguir perceber melhor o frescor da experiência ao encontrá-los e de apreciar o quanto eles mudaram desde o nosso último abraço. O cotidiano nos cega por demais. Mesmo sem querer, os dias podem passar na cadência de diálogos banais e outros tantos nada gentis. Até nos lembramos de pedir desculpas ao ver a tromba do outro, embora o quanto estamos realmente dispostos a observar nosso comportamento a fim de evitar situações de indiferença e desamor?

Toda ida para Brusque mexe comigo: me encanta, me entristece, me faz sentir saudades. Toda volta para São Paulo me deixa reflexiva, com ar bucólico, e ao mesmo tempo aliviada por retornar ao refúgio silencioso desta vida longe.

Da última visita em fevereiro, trouxe na memória uma dama da noite. Surgiu essa planta lá no quintal e, para minha surpresa, meus pais e minha irmã estavam unidos na tentativa de contemplar o desabrochar de uma flor pelo menos.

- Pai, eu peguei essa do pé e coloquei nesse vasinho, acho que ela ainda vai abrir.

- Não, essa já era. Tô pensando em colocar uma câmera para gravar a imagem.


- Vigília na madrugada?

- Line, tu acreditas que ela se abre uma única vez e depois morre? Imagina, uma flor linda desse tamanho...


Eu simplesmente ouvia todos eles, absorta pelo momento. Quem diria que aquela dama da noite, completamente murcha sobre a mesa, teve a qualidade de despertá-los da trivialidade do dia a dia?

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