Sunday, March 13, 2011

O que me alimenta

Caminhar sem muitos planos por Sampa me alimenta. E friso o verbo caminhar, pois é disso mesmo que gosto. Em dia com chuviscos feito ontem, coloco a bota de trekking e mantenhos os pés quentes enquanto a chuva gruda a roupa no corpo. Sensação boa.

Na Paulista, me deu vontade de assistir "Biautiful", com Javier Bardem, mas o Reserva Cultural me presenteou com "Poesia", o filme sul-coreano dirigido por Lee Chang-dong.

Um avó decide burlar o Alzeihmer ("a morte em vida") matriculando-se em um curso de poesia, enquanto acompanha o desenrolar de um crime cometido pelo neto e seus amigos da escola. "Minha filha disse que tenho alma de poeta porque gosto de flores e sempre falo coisas esquisitas", brinca a protagonista no filme. É fácil nos pegarmos desenvolvendo a nossa própria capacidade de algum dia escrever um belo poema. Filme tocante, de ritmo lento como os passos da velhice.

Encontrei por acaso Eva, companheira dos tempos das vacas gordas e anêmicas da Gazeta Mercantil. Outra boa surpresa. Caminhamos depois do filme. Ela até a Peixoto Gomide. Eu até a Alameda Itu, onde fui convidada para conhecer a casa da Marcinha, do Yoga, na doce companhia também da Edina.

Elas me apresentaram o som de Madeleine Peyroux (álbum Careless Love) e Stacey Kent.

Também me alimentei com Clarice Lispector, em Aprendendo a Viver:

"Em busca do outro

Não é à toa que entendo os que buscam caminho. Como busquei arduamente o meu! E como hoje busco com sofreguidão e aspereza o meu melhor modo de ser, o meu atalho, já que não ouso mais falar em caminho. Eu que tinha querido O Caminho, com letra maiúscula, hoje me agarro ferozmente à procura de um modo de andar, de um passo certo. Mas o atalho com sombras refrescantes e reflexo de luz entre as árvores, o atalho onde eu seja finalmente eu, isso não encontrei. Mas sei de uma coisa: meu caminho não sou eu, é o outro, são os outros.
Quando eu puder sentir plenamente o outro, estarei salva e pensarei: eis o meu porto de chegada"
.

Marcinha é daquelas amigas que ao dizer tchau te presenteia com um chá verde orgânico e pede para você mandar mensagem dizendo que chegou bem em casa, pois é perigoso sair perto da meia noite. Gesto poético, dos mais legítimos.

E eu sigo com o inconsequente hobby de caminhar sozinha por Sampa pela madrugada. Pés quentinhos, olhos alertas.




O que te alimenta?

Foto divulgação.

2 comments:

Tuca Faria said...

Ai, que saudade de Sampa que me deu! Amo tanto essa nossa cidade! Obrigada pelo texto. Beijos: Tuca.

Carline :) said...

Beijos paulistanos para você também, Tuca.