Tuesday, July 28, 2009

Me leve até o fim, Me leve até o fim...

Mesmo que os cantores sejam falsos como eu
Serão bonitas, não importa
São bonitas as canções

Um acúmulo de passado foi para a reciclagem. A mãe pediu para eu rever uma caixa repleta de papeis antigos e outros tantos objetos guardados desde a época que tinha espinhas (muitas!) no rosto. Tarde chuvosa, um melódico Luiz Melodia baixinho e uma boa dose de curiosidade: mãos à obra!
Mesmo miseráveis os poetas
Os seus versos serão bons

Pilhas de xerox de leituras para a UFSC, os primeiros textos que da-ti-lo-gra-fei para a disciplina “Técnicas de reportagem” (puxa, é mesmo, cada mesinha tinha uma máquina de escrever), bilhetes, cartinhas, papeis de carta com juras de amor, mensagens imbecilmente adolescentes (na minha opinião atual, claro), recados de “te adooooorooooo” para as amigas, livros que não serão mais vistos nesta encarnação porque as afinidades mudaram. Bastante.
Mesmo porque as notas eram surdas
Quando um deus sonso e ladrão
Fez das tripas a primeira lira
Que animou todos os sons

Após três horas, a caixa transformou-se em duas pilhas: doação e reciclagem. Um verdadeiro afago à minha fase de descontrução. Feng Shui para a alma (hmmm bom tema para um livro de autoajuda). Ainda encontrei perdidos por aí uns bichinhos de pelúcia, sobreviventes desbotados de amores distantes.
E daí nasceram as baladas
E os arroubos de bandidos como eu
Cantando assim:
Você nasceu para mim
Você nasceu para mim

Um desses objetos, entretanto, me chamou a atenção. Quando morava em Floripa, a Juli me deu uma “bruxa de desejos”, que levava no entorno do pescoço uma espécie de receptáculo para guardar um mega e poderoso pedido para a prosperidade. AHH, mas isso vale a pena ser lido! Com a ajuda de uma pinça, resgatei o papelzinho verde.
Mesmo que você feche os ouvidos
E as janelas do vestido
Minha musa vai cair em tentação

O que teria eu escrito há tanto tempo?! Virar uma jornalista famosa? Me aventurar ao redor do mundo mochilando? Buscava eu fama? Dinheiro? Ambos?! (Melhor pensar grande, não?).

(Silêncio)...

HÃ?!!!

Único comentário possível: quem nunca teve uma embriagante paixão na juventude, que atire a primeira pedra!
Únicas atitudes possíveis: 1) demitir a tal bruxa, por serviços mal prestados. Afinal, se todas as vindas tivessem sido “maravilhosas”, convenhamos que ainda estaria namorando o dito cujo, não?
2) Renovar e atualizar o anseio:
Que o recomeço de mim mesma, em toda a minha plenitude, seja diário.
Mesmo porque estou falando grego
Com sua imaginação

Apesar do frio úmido do inverno catarinense, as janelas de casa estavam abertas “para arejar”. Eita mania de querer arejar tudo, enfrentada com três blusas de lã, gorro, cachecol e queixo batendo, mesmo no interior dos ambientes. De qualquer forma, nessa semana que passei por lá, encontrei a tradução prática do ditado chuchuzinho “Home is where the mom is” (O Lar é onde a mãe está): panelada de pinhão cozido, bolo de cenoura, toalhas aquecidas para se enxugar após o banho, pudim de leite, cafuné nas costas para acordar (crec-crec, Cinthia!), cuque de miriam, nhoque de batata, muitas sessões de café Melitta e bençãos maternas e paternas de proteção.
Mesmo que você fuja de mim
Por labirintos e alçapões


Revival total de pliês e jetés. Coincidentemente, eu e Kelly resolvemos visitar Joinville durante o Festival de Dança. Os ingressos já estavam esgotados para ver a mostra competitiva, por isso acompanhamos apenas as apresentações espalhadas pelos palcos da cidade. Cilene, adivinha se não de MUITA vontade de voltar a fazer dança? Será que tenho ainda idade para isso? Porque t-e-m-p-o eu definitivamente não tenho!

Adorei ter visitado a Janine, amigona de formação de Iyengar, e ter compartilhado inúmeras sessões de chimarrão. Trouxe até erva-mate especial, bem amarga. E quem diria que a chuva daria uma trégua! Rolou um dia lindo no sábado. Aproveitamos para ver Joinville lá do alto.
Saiba que os poetas como os cegos
Podem ver na escuridão

Já com a Gabi, outra amiga do yoga, conhecemos a chopperia Expresso, noite animada com show da banda El Niño, do surfista catarinense Teco Padaratz. Gente, temos um Jack Johnson manezinho!
E eis que, menos sábios do que antes
Os seus lábios ofegantes
Hão de se entregar assim:

Me leve até o fim

Após dois dias na maior cidade do estado, visitamos pela primeira vez São Francisco do Sul, a mais antiga de Santa Catarina.

Me leve até o fim

Samba de raízes no Mercado Municipal, almoço gostoso no restaurante “Virado no Alho”, caminhadas no trapiche e o inesquecível Museu Nacional do Mar que, de tão TOSCO, nos fez até chorar de tantas risadas. O interessante mesmo é o barco usado por Amyr Klink naquela travessia a remo de 100 dias entre África e Brasil. A aventura rendeu um livro bacana, que recomendo e tenho para emprestar.
Mesmo que os romances sejam falsos como o nosso
São bonitas, não importa
São bonitas as canções

Voltar para a terra natal é ter a oportunidade de rever amigas queridas, como a Naomi, Mariane (a-mei os presentes!!!) e Gedria, chegar saltitante pedindo para a tia Norma fritar banana para comer com canela no pão, dançar com a banda Tempestade em Balneário Camboriu, dar um beijo na Dona Rute, sempre sentadinha na beirada da janela da cozinha, fumando o seu cigarro e contando histórias singelas de 86 anos de vida.
Mesmo sendo errados os amantes
Seus amores serão bons

Na bagagem de volta para Sampa, trago tudo isso, absolutamente emocionada.

Mesmo porque estou falando grego, com sua imaginação...

(Choro Bandido, by Chico Buarque. Fotos by Carline)

Sunday, July 26, 2009

Joinville com a mana

Me despeço da terrinha gelada hoje, rumo a Sampa. Ao fundo, a Baía de Babitonga.

Monday, July 20, 2009

Exigir que professor de yoga tenha graduação em Educação Física é o ó

Comissão aprova restrições para conselhos de Educação Física

"A Comissão de Educação e Cultura aprovou nesta quarta o Projeto de Lei 1371/07, da deputada Alice Portugal (PCdoB-BA), que determina que os conselhos regionais e federal de Educação Física não podem fiscalizar e nem exigir o registro de profissionais de dança, capoeira, ioga, artes marciais e pilates. Para o relator da proposta, deputado Paulo Rubem Santiago (PDT-PE), que é formado em Educação Física, a atuação dos conselhos é equivocada desde o ponto de vista cultural.

Na sua avaliação, há uma nítida diferenciação no ensino dos profissionais de dança, que é feito em suas faculdades específicas, e os conteúdos que são desenvolvidos nas escolas de educação física no tocante à dança e às atividades corporais.

Nova regulamentação
"São duas questões distintas. Acho que fizemos justiça e estamos reconhecendo agora a necessidade do próximo desafio: que é desmembrarmos a lei que regulamenta a profissão de artista, que tem mais de 40 anos, com uma nova proposta de lei para a profissionalização da dança no Brasil", informou o deputado. "É um compromisso que nós temos e vamos apresentar a partir de agosto." Profissionais da dança que acompanharam a votação aplaudiram a aprovação da proposta. A principal queixa desses profissionais é a de que os fiscais dos conselhos buscam fechar academias de dança porque os profissionais não são formados em educação física.

Tramitação
O projeto ainda será analisado, de forma conclusiva, pelas comissões de Trabalho, de Administração e Serviço Público; e de Constituição e Justiça e de Cidadania."

Fonte: Aliança do Yoga


Meus comentários: comemorei a decisão! Acho que uma faculdade de Educação Física pode contribuir bastante para o trabalho de um professor de yoga, principalmente porque se estuda anatomia, fisiologia do movimento, entre muitas disciplinas que focam o funcionamento físico do corpo humano. Não tenho a intenção de desmerecer o curso de Educação Física, mas vincular, de forma obrigatória, o mesmo para a arte de ensinar yoga é absolutamente ridículo. Primeiramente porque o Yoga em toda a sua plenitude vai muuuuito além dos exercícios físicos. Em vez de nos aprofundarmos em Yamas, Niyamas, Dharana, Dhyana (etc), teríamos que aprender técnicas de handebol, futsal, natação, atletismo e futebol??? Ah, me poupe!

Ah, nós, os ocidentais!

Sunday, July 19, 2009

Ferry boat de Navega Beach





Passo alguns dias visitando família, amigos e cidades de Santa Catarina.

Aqui, eu e Naomi registramos a nossa longa viagem de três minutos: travessia entre Navegantes e Itajaí.

Até breve!

Pequeno marco ambiental

Por meio de clicks quase que diários, "minha floresta" completou o marco de 500 mudas plantadas!

A de hoje será destinada à Fazenda Novo Destino, em Assis (SP). Plante árvores você também pela internet: www.clickarvore.com.br.

Namastê.

Thursday, July 16, 2009

Porque somos grandes amigas, simples assim

O primeiro traço.
Ouvindo e cantando mantra.... Gate Gate Parasamgate ...
... Bodhi Soha!

Special flame design just for us by Ubathan.

A vez da chuchuzinha Cilenita.

Tranquilaça...

Special flame - second part.

Simples assim.

Mais "Alma Imoral", de Nilton Bonder, para celebrar esse momento...

Conterrâneos de alma

“Aquele que experimenta o exílio e chega a uma terra alienígena, nada tem em comum com as pessoas daquele lugar e ninguém com quem conversar. Mas, se um segundo estrangeiro chegar, mesmo que ele seja de um lugar totalmente distinto do primeiro, os dois possuem muito em comum e se identificam, criando vínculos de forte amizade. Se não forem estrangeiros, eles jamais teriam conhecido tão forte amizade e ligação. (...)


Aqueles que se permitem as transgressões da alma com certeza são vistos e recebidos pelos outros como estrangeiros. Os que mudam de emprego radicalmente, os que refazem relações amorosas, os que abandonam vícios, os que perdem medos, os que se libertam e os que rompem experimentam a solidão que só pode ser quebrada por outro que conheça essas experiências. A natureza da experiência pode ser totalmente distinta, mas eles se tornarão parceiros enquanto “forasteiros”.

(...) É a pessoa acomodada que muitas vezes experimenta a depressão, pois ela sim se descobre solitária. Para aquele que está parado em relação à própria vida, de repente todos terão se deslocado. O acomodado terá para sempre o pânico da solidão, pois mesmo outro acomodado é um potencial “traidor” dos ideais estabelecidos pelo corpo. O traidor se desloca pela vida com mais segurança e, em cada local, cada porto, cidade ou lugarejo encontrará um forasteiro como companhia.

Wednesday, July 15, 2009

Ioga enfrenta e resiste à regulação

Publicado no The New York Times, em 12 de julho de 2009

Ioga enfrenta e resiste à regulação

Parecia uma boa ideia no início. Há 10 anos, quando a ioga, até então uma atividade de nicho, se transformava em um fenômeno disseminado da cultura pop, professores de ioga se reuniram para criar um registro online voluntário de escolas que cumprissem com novos padrões para treinamento de instrutores. Mas essa lista - que hoje inclui cerca de mil escolas de ioga nos EUA, muitas delas pequenas - está sendo usada para um propósito distinto do original. Ela é o documento-chave de uma situação que opõe iogues de espírito livre e pesados governos estatais que, diferente daqueles que tentam regular, não são conhecidos por sua flexibilidade.

Citando leis que regulam escolas vocacionais, como as de cabeleireiros e caminhoneiros, autoridades começaram a exigir licenças de escolas de ioga que treinam instrutores, com todas as taxas, inspeções e papelada que as acompanham. Embora os confrontos se desenvolvam de forma distinta em cada estado, ameaças de fechamentos e multas, em alguns casos, se deparam com acusações de abuso de poder e desrespeito religioso - disputas que parecem bem distantes do mundo meditativo evocado pela ioga.

Em abril, o Estado de Nova York enviou cartas para cerca de 80 escolas alertando que suspendessem seus programas de treinamento de professores imediatamente ou receberiam multas de até US$ 50 mil. Mas os iogues do estado se reuniram em oposição e o governo, por enquanto, recuou.Em outros estados, os reguladores não se comoveram. Em março, Michigan deu o prazo de uma semana para que as escolas obtivessem uma licença do Estado ou interrompessem suas operações.

As inconvenientes regras de licenciamento da Virgínia incluem uma taxa de US$ 2,5 mil - um grande golpe para estúdios modestos que não passam de espaços de um cômodo.Lisa Rapp, dona do My Yoga Spirit em Norfolk, Virgínia, disse que fechará seu negócio de sete anos neste verão americano. "Essa foi a causa que nos fez fechar o estúdio por completo", disse Rapp. "É muito ruim, porque esta comunidade realmente precisa de ioga."O conflito começou em janeiro, quando uma autoridade da Virgínia mostrou a reguladores de mais de doze estados um registro nacional online de escolas que ensinam ioga e, nas palavras de uma autoridade de Kansas, têm "uma renda considerável". Até então, apenas alguns Estados tinham conhecimento do registro e haviam atuado para regular a instrução de ioga, apesar de cursos de outras disciplinas, como a massagem terapêutica, já fossem sujeitos à supervisão há bastante tempo.

O registro foi criado pela Yoga Alliance, um grupo sem fins lucrativos fundado em 1999 para criar padrões de ensino num esforço de autorregulação setorial. Em um boletim recente, a aliança alertou seus membros de que as licenças nacionais talvez fossem inevitáveis, "forçando esta antiga tradição a se adequar às práticas de negócio ocidentais"."Facilitamos muito para eles fazerem o que estão fazendo no momento", disse Leslie Kaminoff, fundadora do Breathing Project, um centro de ioga sem fins lucrativos na cidade de Nova York, que se opôs à formação da Yoga Alliance. "

O setor da ioga é um alvo grande e apetitoso."Novas regulações estatais não afetam diretamente as aulas ocasionais frequentadas por muitos dos estimados 16 milhões de americanos que praticam ioga. Mas as aulas que tais regulações afetariam são uma fonte importante de receita para muitas escolas e, é claro, para o treinamento de futuros instrutores."É a perpetuação da espécie", disse S. J. Khalsa, que opera a Kunndalini Yoga East, em Manhattan, uma escola que oferece cursos de treinamento de professores. "Não estamos nisso para ganhar rios de dinheiro."

No entanto, Sybil Killian, gerente geral do OM Yoga Center, também em Manhattan, questiona se a ioga pode alegar com justiça que é uma busca espiritual num momento em que, de acordo com estimativa do setor, fatura US$ 6 bilhões por ano nos Estados Unidos."Pessoas compram calças de moletom de US$ 1 mil porque precisam parecer bonitas enquanto recebem a iluminação", escreveu Killian em uma mensagem de e-mail para outros professores de ioga de Nova York. "Não se enganem, senhoras e senhores, a ioga é uma indústria. Basta apenas folhear a seção de anúncios do Yoga Journal para saber disso."

Segundo reguladores, o licenciamento de escolas permitiria que os Estados consolidassem padrões básicos e protegessem consumidores que normalmente pagam entre US$ 2 mil e US$ 5 mil em cursos de treinamento, além de proporcionar receita para governos famintos por dinheiro. "Se você vai começar uma escola e pegar dinheiro das pessoas, você deve seguir um conjunto de regras", disse Patrick Sweeney, autoridade de licenciamento de Wisconsin que acredita ter sido o primeiro a descobrir o registro online em 2004 e a usá-lo para começar a regulação do ensino de ioga.

"Mais cedo ou mais tarde, provavelmente todo Estado vai fazer isso", disse Patricia Kearney, instrutora de saúde e ciência do exercício do Bridgewater College, em Virgínia, que tem pesquisado a tendência. "Depois que as pessoas se acostumarem, isso vai acabar beneficiando a ioga. Mas isso não acontecerá sem perdas. Alguns programas bons que são pequenos vão fechar. Mas provavelmente alguns programas não tão bons também deverão fechar."No estado de Nova York, entretanto, os professores contra-atacaram, reclamando que as novas regras poderiam diminuir resultados financeiros apertados, contradizer bases religiosas e, mais importante, fechar todas as escolas no estado durante o período de oito meses de licenciamento."Isso basicamente destrói a essência da ioga, controlar e manipular toda a situação", disse Jhon Tamayo, do Atmananda Yoga Sequence em Manhattan. "Ninguém pode regular a ioga."Brette Popper, cofundadora do Yoga City NYC, website que tem acompanhado os desdobramentos do licenciamento, disse que a comunidade iogue - descrita no site como "um grupo que não concorda sequer em como pronunciar 'Om'" - está unida contra um inimigo comum.

Os professores formaram uma coalizão e chamaram um senador estadual, Eric T. Shneiderman, de Manhattan, para assumir sua causa, esperando que Nova York resistisse à tendência nacional. "Isso realmente é algo histórico na comunidade iogue", disse Popper.Essa unidade pôde ser vista no mês passado em um pequeno estúdio de Midtown Manhattan, onde cerca de 100 seguidores de todo o estado se sentaram de pernas cruzadas e descalços no chão de madeira. O grupo, cujos membros variavam de ágeis e jovens professores em roupas elásticas àqueles mais velhos em vestimentas religiosas, começou com um canto tradicional e acabou duas horas mais tarde discutindo procedimentos parlamentares para a organização formal que estabeleceram. Um presente classificou o conflito como "burocracia versus liberdade".

Alison West, que foi selecionada para liderar a nova coalizão, a Yoga Association do Estado de Nova York, rezou por "algumas das alegres conclusões que nunca havíamos concebido".Dias depois, Joseph P. Frey, comissário associado ao Departamento Estadual de Educação, disse em entrevista que o departamento suspenderia o esforço de licenciamento, permitiria o continuamento das aulas e passaria a pressionar por uma legislação que incluiria a ioga em uma lista de atividades isentas de regulação. "Entendo a preocupação das pessoas", disse.

A Alma Imoral e a necessidade de transgredir

O monólogo protagonizado por Clarice Niskier ainda ressoa dentro de mim. Saí do teatro e comprei o livro escrito pelo rabino Nilton Bonder (que deu origem à adaptação para o palco). Terminei de lê-lo anteontem, uma leitura bem mais cisuda que o conteúdo passado com desenvoltura pela atriz.

http://www.almaimoral.com/
Vale a pena assistir e observar os momentos que talvez seja melhor largar a mesmice de lado, mesmo quando consideramos sendo esta "correta e boa". O certo, o errado, a traição, a transgressão, o corpo, a alma , inclusive, ganham novos contornos, mais flexíveis - ou poderíamos dizer mais perigosamente perversos e libertários?
Mas o que significa liberdade, afinal? Não seria isso também uma ilusão?

"A necessidade de transgredir

O rabi Elimelech certa vez perguntou a seus discípulos: “Sabem qual é a distância entre o Ocidente e o Oriente?” Diante do silêncio, o rabino prosseguiu: “Uma simples volta”.


Transgredir é um processo, e o momento em que nos voltamos para outra direção marca um novo segmento de nossas histórias individuais e coletivas. O corpo e sua moral, por sua vez, percebem esse ato como uma “desorientação”. No entanto, transgredir é necessário.


O rabi Bunan adverte que os “pecados” que um indivíduo comete não são o pior crime realizado por ele. O verdadeiro crime do ser humano é que ele pode dar-se “uma simples volta” a qualquer momento, mas não o faz.

Para o rabi Bunan, o problema não é o tempo perdido ou as sandices cometidas no passado, mas o momento de agora, que é uma oportunidade não aproveitada para mudar o curso. Duas coisas ficam comprometidas pela ausência de transgressão: a qualidade da vida e a possibilidade de continuidade.

A qualidade da vida coletiva é prejudicada cada vez que Itálicoum indivíduo não exerce todo seu potencial transgressivo. A vida poderia ser melhor, produzir maior satisfação, mas os indivíduos se abstém de seus direitos e com isso afetam o direito de todos.

Conta-se que um homem rico veio certa vez ao maguid de Kosnitz.
“O que você costuma comer?”, perguntou o maguid. “Sou bastante modesto em minhas demandas”, disse o homem rico. “Pão, sal e água é tudo o quenecessito.”
“O que você pensa que está fazendo?”, o rabino reagiu em reaprovação. “Deve comer carne e beber vinho como uma pessoa rica.”


Mais tarde, seus discípulos questionaram a reação do mestre, e este explicou: “Até que ele coma carne e beba vinho, não vai compreender que o homem pobre precisa de pão. Enquanto ele se alimentar de pão, vai achar que o pobre pode se alimentar de pedras.”

Aquele que não faz uso de todo o potencial de sua vida, de alguma maneira diminui o potencial de todos os demais. Se fôssemos todos mais corajosos e temêssemos menos a possibilidade de sermos perversos, este seria um mundo de menos interdições necessárias e de melhor qualidade.

Nilton Bonder, em Alma Imoral (pgs 81 e 82)

Saturday, July 11, 2009

Irmã coruja

Minha irmã Cinthia deu entrevista sobre a importância de se hidratar bem durante a prática de esportes:

Give young athletes plenty of fluids
-Proper hydration is essential to avoid heat-related illness

Staying hydrated is essential for young athletes to maintain their health and performance. Human bodies are about 60 percent water.

If young athletes don't get enough water to replace what is lost through perspiration, they face the risk of dehydration and other serious heat-related illnesses in addition to a loss of focus and energy. Thirst is the first sign of dehydration, but young athletes often make the mistake of waiting until they are thirsty to get a drink.

Cinthia Piva, a registered dietitian with the Sports Medicine program at Children's, said the first step to remaining sufficiently hydrated during exercise is developing a drink-break schedule.
"Do not wait until a child shows he is thirsty to make him hydrate during exercise," Piva said. "If they are working out and sweating – indoors or outdoors – then they should be on a schedule of trying to drink at 10 to 30-minute intervals depending on their sweat rate." The American Academy of Pediatrics recommends drinking every 20 minutes.

Knowing when to hydrate and how much
Piva recommends that young athletes begin hydrating themselves two hours before exercising by having 1 ounce of liquid for every 10 pounds of their body weight. Then, if profuse sweating is expected, they should start the routine of drinking 0.6 ounces for every 10 pounds of body weight 20 minutes prior to exercise, and continue to drink the same amount in 20-minute intervals. For example, a 60-pound child should drink about 6 fluid ounces two hours before exercise and about 3.5 fluid ounces every 20 minutes during exercise, beginning 20 minutes before exercise.

A helpful way to figure out how much to drink after exercise is to weigh before and after workouts. The weight lost during exercise is typically all water weight. Young athletes should drink 16 to 24 ounces for every pound they lose during exercise. If they weigh more after exercise, they drank more than they needed. The goal is to maintain the same weight before and after physical activity.

Water or sports drinks?
While sports drinks, juices and even sodas all provide some degree of hydration, water is generally the healthiest option because it lacks the calories and additives of the other drinks. However, Piva advises sports drinks over water for workouts lasting longer than 60 to 90 minutes in order to replace electrolytes lost from intense sweating.
"Drinking lots of water without replenishing electrolytes while exercising for several hours could lead to hyponatremia (low sodium in the blood)," says Piva. "We don't want to go from one extreme of not having enough water to the other extreme of having too much water."

Signs of dehydration:
Dark urine
Dry lips and mouth
Decrease in reaction time
Decrease in physical performance
Irritability
Nausea
Headache
Apathy
Disorientation

Children with any of these signs should be allowed to rest and given water or sports drinks. If, after several hours, the child feels dizzy or faint, or has not had much urine output, the child should be seen by a doctor. Disorientation, inability to drink or pale skin indicates a serious condition that should be treated as a medical emergency.

Feliz aniversário, Laura!

Rolou uma festa supresa linda, preparada pelo Alberto. Muitas felicidades, querida roommate ;)

Friday, July 10, 2009

Diálogos marcantes

-Está bem calor, não?
- Pois é, aqui dentro do metrô é sempre muito quente, deveriam melhorar a ventilação.
- Você sabe por que é quente?
- Hmmm não. Por que?
- Porque não é frio. (Era uma piada)

Conversa com um velhinho que sentou ao meu lado, na estação Vila Madalena.


- Eu nunca mais venho nessa festa.
- Por quê?
- O povo daqui é muito arrogante, muito mesmo. Seis pessoas me perguntaram onde fica o banheiro, três outras onde era o caixa e duas onde ficava a saída. E EU NÃO TRABALHO AQUI!
- (Silêncio).

Conversa com um jovem negro, altão, forte e vestido totalmente de preto, indignado por ser confundido como segurança da Festa Gambiarra, no Hotel Cambridge, centrão de Sampa.


- Você é lésbica? Alguém nessa roda é?
- Eu sou hetero assumida(ça). Minhas amigas também são.
- Você já beijou uma mulher antes?
- Nunca. Você já beijou algum homem antes?
- Eca... É que você lembra tanto uma ex-namorada minha.
- Você não lembra em nada o meu ex-namorado.
- Tenho um pinto de borracha, serve?

Conversa com a Mariana, que se encantou por mim na festa decadente no Hotel Cambridge.

E, por fim:
- O glamour é insustentável... Graças a Deus.
- Será?

Thursday, July 09, 2009

Há 10 anos


éramos estudantes na Universidade Federal de Santa Catarina...

Fotos resgatadas pelo Magoo.

Por onde anda o Diego?

Wednesday, July 08, 2009

Eu gostaria de ser...

Ops, fui convocada pelo Dudu, do blog Terrazita, a responder cinco coisas que não sou e gostaria de ser. Quando soube disso, pensei imediatamente: ah, estou satisfeita comigo mesma, sou feliz assim desse jeito empolgado e embaralhado mesmo. Cinco minutos depois, eis que surge a minha lista:

Mais decidida: ainda hei de encontrar algum libriano expert na arte de fazer escolhas de maneira ágil e eficiente. Ninguém merece ter uma balança como símbolo do zodíaco. Apesar de não entender muito de astrologia, me conforta saber que meu ascendente é touro. Ou seja, pelo menos quando tomo uma decisão, costumo seguir firme, forte e avante!- pelo menos até a próxima encruzilhada.

Naturalmente mais alongada: nada como trabalhar a humildade no yoga, encontrando a cada dia uma nova limitação do corpo. Obviamente, colocar o pé atrás da cabeça não é o objetivo dessa prática milenar e, os naturalmente duros, que sonham algum dia tocar as mãos nos pés com as pernas estendidas, hão de achar que estou reclamando de barriga cheia. Entretanto, eu bem gostaria de ser mais alongada para sentir aquele conforto estável nas posturas, sem sentir o gastrocnêmio fritando ou o torso que não torce nas flexões para frente.

Menos perfeccionista: sei que não tenho mais idade para ainda culpar a minha mãe por eventuais tramas residuais da infância, mas nesse ponto não resisto. Passei a minha vida colegial suando atrás do desenho perfeito, do texto perfeito, da colagem perfeita, sem rasuras, sem giz de cera além do contorno. Se não estava “bom o suficiente”, a mami impiedosa chegava a rasgar a página para me obrigar a fazer tudo de novo, mais bem feito, claro. Minhas notas eram exemplares, praticamente 9 e 10, exceto em matemática e física. Resultado: ela olhava o geral e reclamava: tinha que ter tirado 8 em matemática para “estragar” o boletim, né? Agora, no auge dos 31 anos, me diz se eu consigo sentir plena satisfação com os textos que escrevo? Qualquer foto que tiro é “boa” o suficiente? Sempre dá para melhorar um pouquinho, não?

Mais militante: com 1 bilhão de famintos no mundo, o que catzo estou fazendo aqui parada escrevendo no blog? Onde foi parar o sonho de ir para África do Sul para combater o avanço da AIDS? E por que ainda não me engajei na criação de políticas públicas para conter o desmatamento da Amazônia, a corrupção do governo, a falta de tratamento do lixo, da água e do ar? Ficar reciclando papel e plástico em casa não leva a lugar algum - embora recomende a prática. Pelo menos isso, né?

Ah, sim, mais organizada: nesse exato momento, há uma pilha de roupas usadas no lado direito do quarto, uma pilha dos mais diversos papéis e livros na minha frente e, no chão, um montinho de roupa para lavar. Categorizar a bagunça em pilhas é o máximo de organização já alcançada. E, acredite, eu ainda consigo achar tudo!


Queria ser mais organizada com as finanças também. Acho que convivi muito com australianos que juntam dinheiro para depois sair viajando e curtindo a vida. Queria conseguir organizar a poupança para, a exemplo de muitos amigos meus, comprar um apê, uma casa, um carro. Por ora, acabei de comprar mais uma passagem aérea. Califórnia, em setembro, aí vou eu. UHU!

Apesar de tudo, você sabe (ou deveria saber), o importante é manter o bom humor ;)

Encaminho agora o desafio para outros cinco blogueiros queridos: Dani Barbara, Walter, Simone, Rita e Dani Oliveira.

Tuesday, July 07, 2009

Porque ontem e hoje eu acordei cantando...

"There's a natural mystic blowing through the air;
If you listen carefully now you will hear

This could be the first trumpet, might as well be the last:
Many more will have to suffer,
Many more will have to die - don't ask me why...


Things are not the way they used to be, I won't tell no lie; One and all have to face reality now.
'Though I've tried to find the answer to all the questions they ask.

'Though I know it's impossible to go livin' through the past - Don't tell no lie" (Bob Marley)

Percebi que não tinha baixado todas as fotos do último encontro. Acrescento as três derradeiras ;)

Hoje à noite termina o semestre da pós-graduação e estou de férias de todos os cursos. Ainda falta entregar um trabalho sobre a Filosofia da Paisagem segundo Georg Simmel, um sociólogo alemão que com certeza curtia uns ácidos no início do século.

Resolvi passar mais alguns dias em Sampa, inclusive para prestigiar o aniversário da minha flatmate Laura neste sábado, e só vou para Santa Catarina no outro fim de semana. Vai ser bom caminhar com a água gelada do mar até os joelhos...

Assisti novamente o filme As Horas, sim, eu sei, é de cortar os pulsos, mas tem cada diálogo marcante, não? Quando o marido pergunta para a escritora porque ela tem que matar um personagem, ela responde que quando uma pessoa morre, as outras ao redor passam a valorizar mais a vida. É a finalidade dos opostos, das contradições.

Sunday, July 05, 2009

Só a justa medida do tempo dá a justa natureza das coisas

Final de semana (passado) especial na formação de Iyengar Yoga, com “formatura” de mais seis amigos queridos: Janine, Felipe baiano, Joana, Fátima, Fernanda e Renata.

Com desenvoltura, apesar de se declarar "tímida", a Fátima revelou os seus talentos artísticos no violão e canto de mantra. A Rê conduziu uma sessão de massagem em grupo e em dupla. Mal sabia ela que ninguém iria manter a concentração...

A Jô compartilhou um trecho do livro de Raduan Nassar, Lavoura Arcaica, que reproduzo abaixo, como se pudesse costurar os belos momentos em um tecido único para ser dobrado e guardado com carinho, no qual todos nos entregamos às intermináveis horas de prática e meditação ativa.

“O tempo é o maior tesouro de que um homem pode dispor; embora inconsumível, o tempo é o nosso melhor alimento; sem medida que o conheça, o tempo é, contudo, nosso bem de maior grandeza: não tem começo, não tem fim, é um pomo exótico que não pode ser repartido, podendo, entretanto, prover igualmente a todo mundo;

onipresente, o tempo está em tudo; existe tempo, por exemplo, nesta mesa antiga: existiu primeiro uma terra propícia, existiu depois uma árvore secular feita de anos sossegados, e existiu finalmente uma prancha nodosa e dura trabalhada pelas mãos de um artesão dia após dia,
existe tempo nas cadeiras onde nos sentamos, nos outros móveis da família, nas paredes da nossa casa, na água que bebemos, na terra que fecunda,
na semente que germina, nos frutos que germina, nos frutos que colhemos, no pão em cima da mesa, na massa fértil dos nossos corpos, na luz que nos ilumina,

nas coisas que nos passam pela cabeça, no pó que dissemina, assim como em tudo que nos rodeia;

rico não é o homem que coleciona e se pesa no amontoado de moedas, e nem aquele, devasso que se estende, mãos e braços, em terras largas;
só é o homem que aprendeu, piedoso e humilde , a conviver com o tempo, aproximando-se dele com ternura, não contrariando suas disposições, não se rebelando contra o seu curso, não irritando sua corrente, estando atento para o seu fluxo, brindando-o antes com sabedoria para receber dele os favores e não a sua ira;
o equilíbrio da vida depende essencialmente deste bem supremo, e quem souber com acerto a quantidade de vagar, ou a de espera, que se deve pôr nas coisas,

não corre nunca o risco, ao buscar por elas, de defrontar-se com o que não é; por isso, ninguém em nossa casa há de dar nunca o passo mais largo que a perna (...);

aquele que exorbita no uso do tempo, precipitando-se de modo afoito, cheio de pressa e ansiedade, não será jamais recompensado,
pois só a justa medida do tempo dá a justa natureza das coisas, não bebendo do vinho quem esvazia num só gole a taça cheia, mas fica a salvo do malogro e livre da decepção quem alcançar aquele equilíbrio,

é no manejo mágico de uma balança que está guardada toda a matemática dos sábios,
num dos pratos a massa tosca, modelável,
no outro, a quantidade de tempo a exigir de cada um o requinte do cálculo,
o olhar pronto,
a intervenção ágil ao mais sutil desnível...”

Como compartilhar o mesmo vinho, em dias separados

Em junho, me surpreendi. Como há tempos não fazia. Deixei a casa cair, conversei com os meus botões, terminei um relacionamento que começou em um ponto de ônibus na Luiz Carlos Berrini em 2001, refleti sobre todos os chavões, tempo é o melhor remédio, a dor é inveitável mas o sofrimento é opcional, clamei por solitude, fiz sequencias incansáveis de adho mukha svanasana, só não conversei com Deus, pois me falta um. Em junho, perdi o apetite, alguns quilos, todas as festas juninas, o que restava de umas poucas certezas, o sono, o lançamento do livro da querida Naomí, a disciplina de meditar pela manhã. Me esvaí no banheiro - o que não merece detalhes em blog.

Apesar da revolução interna, que anestesia a maioria das experiências cotidianas, recebi muitos gestos de carinho e de acolhimento. Escreveria até poesia de agradecimento aos amigos, se tivesse o dom. Ontem saí para caminhar com uma amiga das mais especiais, aceitei jantar na sua casa, e acabei terminando um vinho aberto no dia anterior, que coincidentemente havia sido levado pelo ex (temos essa grande amiga em comum). Ao sabor de carmenére, simbolicamente percebi como os descompassos de momentos de vida nos tornam distantes, um mais à frente, outro atrás. E o amor, nisso tudo, não se acaba simplesmente (óbvio), mas é absorvido integralmente pelo corpo e pela alma e transformado em degustação solo; diferente, mas nem por isso menos especial.

Eu sei que blog costuma tratar da vida pessoal, dos devaneios íntimos, sonhos e tudo mais. A parte de relacionamento, entretanto, tem que ser vivida e não simplificada em palavras que acabam descolorindo o seu sentido e, pior, incentivando julgamentos alheios. Privacidade e respeito, acima de tudo.

"Porque o amor

É a coisa mais triste

Quando se desfaz

O amor é a coisa mais triste

Quando se desfaz".