“Descobri que minha obsessão por cada coisa em seu lugar, cada assunto em seu tempo, cada palavra em seu estilo, não era o prêmio merecido de uma mente em ordem, mas pelo contrário, todo um sistema de simulação inventado por mim para ocultar a desordem da minha natureza.
Descobri que não sou disciplinado por virtude, e sim como reação contra a minha negligência; que pareço generoso para encobrir minha mesquinhez; que me faço passar por prudente quando na verdade sou desconfiado e sempre penso o pior; que sou conciliador para não subir às minhas cóleras reprimidas; que só sou pontual para que ninguém saiba como pouco me importa o tempo alheio. Descobri, enfim, que o amor não é um estado da alma e sim um signo do zodíaco. (...)
Me pergunto como pude sucumbir nesta viagem perpétua que eu mesmo provocava e temia. Flutuava entre nuvens erráticas e falava sozinho diante do espelho com a vã ilusão de averiguar quem sou. Era tal meu desvario, que em uma manifestação estudantil com pedras e garrafas tive que buscar forças na fraqueza para não me colocar na frente de todos com um letreiro que consagrasse minha verdade: Estou louco de amor".
Trecho de "Memória de minhas putas tristes", livro recém-lançado por Gabriel García Márquez - que acabei de ler hoje, durante o tráfego monumental para sair do Morumbi
Wednesday, August 24, 2005
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